A State Power Investment Corporation (SPIC), uma das cinco maiores elétricas estatais da China, está preparando um amplo programa de modernização da hidrelétrica São Simão, que foi arrematada no fim do ano passado em um leilão de relicitação depois que a Cemig perdeu a concessão. Até janeiro, a chinesa vai concluir um estudo energético que vai verificar a possibilidade de instalação de uma sétima turbina na hidrelétrica, aumentando sua potência dos atuais 1.710 gigawatts (GW) para 1.995 GW. A SPIC chegou ao Brasil depois de adquirir a americana Pacific Hydro, em operação concluída em abril de 2017. A elétrica já tinha 58 MW em dois parques eólicos instalados na Paraíba. Em setembro do ano passado, já atuando como SPIC Pacific Hydro no Brasil, arrematou a concessão de São Simão por R$ 7,2 bilhões.

A operação da hidrelétrica foi feita de forma compartilhada com a Cemig até maio deste ano, quando a SPIC assumiu definitivamente a operação, e passou a estudar como modernizar o ativo. Ao mesmo tempo, avalia crescer no Brasil por meio de aquisições e participação em leilões de energia nova, sempre com foco em rentabilidade e projetos de fontes renováveis. “Esse é um grupo presente em 41 países e que vai investir para gerar 30 GW adicionais até 2020. O Brasil é uma das rotas desse investimento. Olhamos o país com potencial importante”, disse Adriana Waltrick, diretora-geral da empresa no Brasil. Segundo informações em seu site, a SPIC tem hoje US$ 113 bilhões em ativos e uma capacidade instalada superior a 100 GW de potência.

Enquanto avaliam oportunidades, o enfoque da companhia é a modernização de São Simão. “O estudo energético vai dizer se é possível repotencializar a usina com uma máquina adicional”, disse Miguel Saad, diretor técnico e de operação e manutenção da SPIC Pacific Hydro Brasil. Por enquanto, já foram feitos dois diagnósticos.

O primeiro é o sistema de supervisão e controle da usina, que é muito antigo, uma vez que a hidrelétrica é de 1978.

“A Cemig fez uma atualização inicial em 2002, mas está completamente fora do que se produz hoje no mercado”, afirmou Saad. Segundo ele, a prioridade inicial é na troca desse sistema, pois é ele que emite sinais quando há algum problema ou alteração no funcionamento dos equipamentos da planta. No início de janeiro, a companhia já deve lançar uma concorrência para contratar fornecedores para essa primeira melhoria. A ideia é usar os períodos em que as máquinas são paralisadas anualmente para manutenção programada para trocar os sistemas.

Outro diagnóstico já realizado é sobre a necessidade de troca dos transformadores elevadores (que transformam a tensão elétrica em energia). A licitação deve sair em meados do primeiro semestre do ano que vem. As trocas, contudo, ficarão para a segunda etapa da modernização.

Um projeto básico com toda a reforma ficará pronto até meados do segundo semestre de 2019, já com a definição sobre a instalação ou não de uma máquina adicional na hidrelétrica.

Segundo Saad, pelas regras do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), apenas uma das máquinas da usina pode parar por ano, por um período de até 12 meses. Por isso, a expectativa é que toda a reforma seja feita em até nove anos. A SPIC ainda não tem uma projeção do investimento necessário nessa reforma. Segundo Adriana, a tarifa da usina, que é alocada no regime “novo” de cotas, já prevê uma receita extra para melhorias, da ordem de R$ 130 milhões por ano.

“Mas vai depender de como o empreendedor enxerga o estado ótimo da hidrelétrica, pode ser um investimento maior ou menor que isso”, completou a executiva.

O objetivo da modernização é garantir que a hidrelétrica atinja os melhores fatores de disponibilidade, evitando penalidades e revisões de sua garantia física. Enquanto a reforma estiver em andamento, a SPIC pode participar de leilões de energia nova ano que vem, com projetos das fontes eólica e solar.

“Temos projetos em locais próximos aos nossos parques, no Rio Grande do Norte e na Paraíba, e também parcerias com desenvolvedores para irmos a leilões em 2019”, disse Adriana.

“Nosso acionista busca fundamento do negócio, e não volatilidade de câmbio e de demanda. Ele olha para tudo”, disse.

A SPIC também negocia a aquisição da hidrelétrica de Santo Antonio, no rio Madeira (RO). Questionada sobre o andamento das conversas, Adriana não comentou, pois assinou um contrato de confidencialidade com os sócios.

 

Por Camila Maia | De São Paulo